segunda-feira, 20 de setembro de 2010

            O péssimo hábito de entrar discussões sem solução e debater com idiotas fez com que eu reconsiderasse a minha promessa de evitar escrever textos sem enredo (que parecem apenas incitar polêmica). É irresistível, tenho de me defender, com o perdão do lugar-comum: A igualdade entre os sexos, nos dias atuais, não passa de mera ilusão. 
            Os conformistas considerarão a afirmação absurda, afinal, a geração que vive hoje veio após a (assim dita) emancipação que possibilitou às mulheres a independência financeira e a autonomia nos relacionamentos, entre outros clichês repetidos à exaustão. Todavia, o passado está impregnado no presente de forma oculta (ou não), e nossa herança cultural, acumulada desde o período Clássico, é extensa.
            Tomando, por exemplo, o pensamento aristotélico, verifica-se que a mulher foi considerada um homem mal-acabado durante toda a Antiguidade. Resquícios desta tese são claríssimos também nas produções do século XX, sendo reforçada pela psicanálise de Freud, ao declarar inexorável a “inveja do pênis”. Com um pouco mais de atenção, observa-se que os mesmos pensadores (homens) os quais se aventuraram a questionar convenções, resumem a mulher aos conceitos naturalistas, puramente anatômicos: A mulher é um ser marcado para a possessão.
            Outro velho lugar-comum é a tendência geral ao “grande temor” da fraqueza, da paixão que entra em conflito com a razão. Os homens sonham, cobiçam, imaginam o sexo das mulheres. Temem-no, portanto. Sabendo que a “posse” do corpo alheio os aniquila por si só, e não pretendendo potencializar os riscos de insucesso, os homens criaram (e criam) inúmeros recursos para garantir a subserviência feminina e a eterna dominação sexo-intelectual.
            A despeito da repressão, as inverdades ditadas durante tanto tempo não passaram despercebidas aos olhos de mulheres inteligentes. “Não nascemos mulher, tornamo-nos mulher”, diz Beauvoir. O rompimento com os conceitos deterministas que serviram de molde para a organização social de quase todo o mundo até a década de 60 foi, sim, um avanço imensurável em relação aos pequenos passos dados até então na busca da liberdade. Como de praxe, entretanto, a má interpretação das palavras de excelentes autoras pôs muito a perder.
            O feminismo teve efeito limitado, ao queimar sutiãs e agir como se fosse impossível o exercício da liberdade a menos que as mulheres se transformassem nos homens a quem declarava ojeriza. Contudo, menos ainda fizeram as que aproveitaram as “licenças” recém-adquiridas para multiplicar o uso da sedução como arma ou moeda de troca na conquista de seus interesses (tudo dentro do preceito da igualdade).
            Ironicamente, foi neste momento em que projeto de igualdade desmoronou, pois se acirrou a guerra dos sexos. Favorecidos ainda são os homens, que não tem de optar entre dignidade e prazer, vaidade e reconhecimento.
            Por que insistir em “fracionar” a mulher? Seriam elas tão assustadoras sob a forma de um indivíduo completo?
            A indiferenciação é um drama, porque em geral não existe e, quando existe, ambos os lados saem perdedores. Não se admite que todos os gêneros, diferentes como são, possam ter o mesmo valor e os mesmos direitos, preservando suas próprias características. Ao contrário disto, prefere-se a disputa e ignora-se que homens e mulheres são complementares: A trégua só será possível quando sexo e filosofia não trouxerem segregação, mas aliem-se na busca de gozo e criação.

6 comentários:

  1. O homem é a mulher são mais parecidos do que pensamos. Na verdade, quase iguais. Enganam-se os machistas, bem como, enganam-se as feministas. Mas é certo que existe uma, digamos, dívida histórica da sociedade com as mulheres. Qual é a diferença entre um pensamento de um homem e uma mulher? eu acho que pode ser a mesma diferença entre o pensamento entre umma mulher e outra mulher, ou um homem e outro homem. A diferença está no sexo. Eguerra de sexos é coisa de gente idiota, viciados em disputa, tanto homens quanto mulheres. Caráter não tem sexo.

    Um abraço querida. Quem bom que gostou do meu blog :-)

    http://estevespensando.blogspot.com/

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  2. Fazia tempo que eu não lia um texto bom em blogs.
    Parabéns!

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  3. "A igualdade entre os sexos, nos dias atuais, não passa de mera ilusão."
    Nossa até que em fim achei uma moça que pensa como eu!
    Sim realmente concordo plenamente com você.
    Conseguimos nosso espaço de certa forma. Mas ainda somos consideradas um ser inferior intelectualmente. Perguntei a vários de meus colegas (que sim eram inteligentes), e eles afirmaram isso que digo.
    Acho que demorara uns anos para mudar, pois toda essa revolução foi recente.

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. "Enganam-se os machistas, bem como, enganam-se as feministas"
    Ah!complementando o comentário do moço.
    As feministas sempre quiseram igualdade, apenas isso.

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  6. Em vez de aceitarem a igualdade em todas as pessoas, os ditos ''senhores da sabedoria'' passaram e continuarão distorcendo e menosprezando não so as mulheres como as demais ditas etnias... lamentável

    Ótimo texto e obrigado pela visita e me adicionar aos favoritos

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