segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Haikai para os imaginativos (2)

Ainda sobre o figo
Novo, aberto, vivo sente
Fome de semente

sábado, 25 de setembro de 2010

              O céu é cinza-violeta manchado de ocre por um sol que grita atrás das nuvens, sufocado. Do lado de cá, a atmosfera pesa. Todo o centro cheira a tempestade e pastel. Ah! O zunzum da cidade ao cair da tarde: Jovens ambiciosos usando ternos baratos, senhoras muito religiosas pregando no ponto de ônibus, prostitutas que pisam firme na calçada traiçoeira e movem os quadris com agilidade. Zunzum abafado por Chico Buarque no meu MPmuito. Tragicomédia com exímio elenco de bailarinos desajeitados. Perdoem-me o excesso (difícil descrever o previsível sem que o leitor se enfastie), mas o óbvio redesenhado pelo presente e pelo futuro perde os traços de um passado distante, e tenho de procurar algo que torne o momento algo mais que a ansiedade da calmaria.
            Volto-me para meus planos, a fila que não se move é uma dádiva para minha sede criativa. Não imagino um novo poema, mas aquilo que realmente há de mudar minha existência: Juntar um dinheiro aqui e ali, uma viagem - que triste é a vida com os cobres contados. Ainda bem que existem os pequenos amores que nos distraem - será que ligo para o Eduardo, chamo-o para um jantar e dê no que der? Alguém me cutuca: A fila andou (penso bem: Andou mesmo). A ilusão de cinco passos é desmanchada por um problema no caixa. Olho para fora. Vai mesmo chover. E eu precisava passar no mercado. Que Helena não apareça em minha casa hoje. Como voltar às minhas afronesias belíssimas ante a minha realidade ainda mais imbecil?
            A catedral do outro lado da praça me faz notar que continuo na mesma Cidade Sorriso bipolar de sempre. Enquanto amaldiçoo o agora, chega à frente da igreja, tímida em seus andrajos, uma senhora franzina. Volta o rosto para cima. Como eu, sabe que vem água. Procura um lugar mais coberto, mas cada toldo já possui “dono”. Que lhe resta? Carrega alguns papelões. Anda em círculos como um cão que estuda o território. Para. Uma idéia genial. Genial! A alguns metros dali, uma lata de lixo. Estica seu paupérrimo leito parcialmente sob ela. Quando o céu desabar, sua cabeça permanecerá quase seca.
            Pago minhas contas. Caminho rapidamente. Passo pela mendiga. Pingos esparsos e grossos caem. Batem no metal, ressoam. Molham os farrapos que recobrem a pele curtida. Cada vez mais constantes, as gotas. Geladas, impiedosas. Fujo, embora elas sejam minhas irmãs. Corro, corro e alcanço um táxi: Desperdício necessário. Não me volto para olhar. Sei que a velha continua lá. Dou o endereço para o motorista. Partimos, é claro. Ou você havia conjecturado outro final?

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Eu sou o tempo de que outro alguém? Futuro
Projeto do aqui, falha, fio de voz
Esmorecendo a cada novo escuro
Ou queimando a certeza de um após

Estive quem, segundo longo atrás?
Espio por sobre o ombro – Onde? Onde? Onde?
Se ontem mal ondulava minha paz
Agora agoura, foge, mente, esconde!

Espaço de infinito infinitivo
Para encontrar-te temo e sobrevivo
Víscera ou vácuo, caco de universo

No âmago meu, teu, céu de centro etéreo
Centelha o nada, estrela-mãe estéril
Cuspindo-nos o tudo todo ao inverso

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

            O péssimo hábito de entrar discussões sem solução e debater com idiotas fez com que eu reconsiderasse a minha promessa de evitar escrever textos sem enredo (que parecem apenas incitar polêmica). É irresistível, tenho de me defender, com o perdão do lugar-comum: A igualdade entre os sexos, nos dias atuais, não passa de mera ilusão. 
            Os conformistas considerarão a afirmação absurda, afinal, a geração que vive hoje veio após a (assim dita) emancipação que possibilitou às mulheres a independência financeira e a autonomia nos relacionamentos, entre outros clichês repetidos à exaustão. Todavia, o passado está impregnado no presente de forma oculta (ou não), e nossa herança cultural, acumulada desde o período Clássico, é extensa.
            Tomando, por exemplo, o pensamento aristotélico, verifica-se que a mulher foi considerada um homem mal-acabado durante toda a Antiguidade. Resquícios desta tese são claríssimos também nas produções do século XX, sendo reforçada pela psicanálise de Freud, ao declarar inexorável a “inveja do pênis”. Com um pouco mais de atenção, observa-se que os mesmos pensadores (homens) os quais se aventuraram a questionar convenções, resumem a mulher aos conceitos naturalistas, puramente anatômicos: A mulher é um ser marcado para a possessão.
            Outro velho lugar-comum é a tendência geral ao “grande temor” da fraqueza, da paixão que entra em conflito com a razão. Os homens sonham, cobiçam, imaginam o sexo das mulheres. Temem-no, portanto. Sabendo que a “posse” do corpo alheio os aniquila por si só, e não pretendendo potencializar os riscos de insucesso, os homens criaram (e criam) inúmeros recursos para garantir a subserviência feminina e a eterna dominação sexo-intelectual.
            A despeito da repressão, as inverdades ditadas durante tanto tempo não passaram despercebidas aos olhos de mulheres inteligentes. “Não nascemos mulher, tornamo-nos mulher”, diz Beauvoir. O rompimento com os conceitos deterministas que serviram de molde para a organização social de quase todo o mundo até a década de 60 foi, sim, um avanço imensurável em relação aos pequenos passos dados até então na busca da liberdade. Como de praxe, entretanto, a má interpretação das palavras de excelentes autoras pôs muito a perder.
            O feminismo teve efeito limitado, ao queimar sutiãs e agir como se fosse impossível o exercício da liberdade a menos que as mulheres se transformassem nos homens a quem declarava ojeriza. Contudo, menos ainda fizeram as que aproveitaram as “licenças” recém-adquiridas para multiplicar o uso da sedução como arma ou moeda de troca na conquista de seus interesses (tudo dentro do preceito da igualdade).
            Ironicamente, foi neste momento em que projeto de igualdade desmoronou, pois se acirrou a guerra dos sexos. Favorecidos ainda são os homens, que não tem de optar entre dignidade e prazer, vaidade e reconhecimento.
            Por que insistir em “fracionar” a mulher? Seriam elas tão assustadoras sob a forma de um indivíduo completo?
            A indiferenciação é um drama, porque em geral não existe e, quando existe, ambos os lados saem perdedores. Não se admite que todos os gêneros, diferentes como são, possam ter o mesmo valor e os mesmos direitos, preservando suas próprias características. Ao contrário disto, prefere-se a disputa e ignora-se que homens e mulheres são complementares: A trégua só será possível quando sexo e filosofia não trouxerem segregação, mas aliem-se na busca de gozo e criação.

domingo, 19 de setembro de 2010

Boca falou...

- Eu acredito na forca
- Ah, é mesmo?
- Claro
  Desde que não seja eu o
               
                 E
                 n
               f o r
            ca     d...

sábado, 18 de setembro de 2010

Mania estranha, invejar os versos meus:
Precisa-se de dúvidas e lágrimas
Para escrever a vida em bons troqueus
Riscar dor, riso e engano em brancas páginas

E quantas frustrações em tinta encerro!
De fato, todo bem é um empecilho
A real beleza da arte mora no erro
No passo em falso e na ameaça de exílio

Tantas maldades líricas e vis!
Premeditados crimes, heresia
Trejeitos inconstantes de uma atriz

Somente o desespero traz poesia
Atenta: Cada letra está sangrando
Martiralgoz até no canto brando...

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

             Na penumbra cotidiana de uma terça-feira à noite ouço o som da TV do vizinho. Quero levantar e fumar, mas não vou, meu cabelo está molhado e vai ficar com um cheiro terrível se eu o fizer. Meus olhos ardem. Lentamente, vinda sabe-se lá de onde, a angústia me absorve (angústia, esta palavra tão démodé, não encontro outra...), eu bocejo, embora não tenha a intenção de dormir. Que estranho, estou viva. E a consciência me faz querer fugir dela própria. Percebo meu peso sobre o colchão velho, minha respiração me aterroriza. Encolho-me como um feto adulto, débil, desejando retornar ao útero da mãe que em pouco tempo hei de perder.
            Fecho os e escuto profecias nefandas escritas em olhos por detrás de lentes que refletem a luz branca de uma clínica. Se eu pudesse rezar... É possível que a religião, tão dogmática, possa vencer o não menos dogmático cientificismo? Não posso, não quero me apegar a nada. E a agarro-me ao travesseiro, imagino um soluçar dolorido, que direito tenho eu de sofrer? Preparo-me para o luto, como sou insensível! Esqueço os cabelos, alcanço o meu Charm e vou para a varanda.
            Acendo o cigarro muito tranquila, mas é só por um momento. Trago rápido. Não consigo livrar minha mente das metáforas ou vôos poéticos. Será que trago a vida, também, depressa demais? Egoísta. Gulosa. Quem sabe até má. Só que não é a mim que chama a morte, pelo menos não hoje. A poesia existe para os vivos. Quem já não respira, já não respira. Eu solto a fumaça num suspiro.
            Preciso me distrair. Fazer as unhas, visitar a Flávia em Cascavel, alguém que me faça feliz para sempre pelo próximo mês e meio. Brûlée, a gata, mia de dentro da lavanderia. Largo a bituca no canteirinho mesmo. Escrevo. Duas, três linhas. Quero engolir o Aurélio e achar palavras rebuscadas que não me exponham tanto. Desisto. A chata da Brûlée continua com seus protestos. Vou ver o que é. Abro a porta e ela escapa para o sofá da sala, aninhando-se na almofada. Deixo-a lá. De volta ao quarto. Meu celular vibra na cabeceira. Uma mensagem. Leio. Babaca. Penso em ligar para casa. Oscilo. Cedo e disco o número. Minha mãe atende. Desligo e vou dormir.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Se eu escrevesse para a Marie-Claire

Tudo bem, queridos leitores, pegaram-me no flagra. Confesso: Posso ser bem fútil também. Fuzilem-me. Mas antes, leiam.



Duas pequenas listas:

Cinco coisas que não se deve exigir de um homem


1- Que ele seja rico

A não ser que você também seja. O dinheiro é uma algema. Não faça de namoro profissão, pois é um investimento arriscadíssimo, as dívidas criadas são enormes. E a conta sempre chega.

2- Que ele tenha o Q.I. de um gênio

Você vai querer matá-lo a golpes de machadinha quando ele a corrigir. E de que adianta o seu eleito ser um exímio matemático, gramático, geógrafo, se não fizer nada de útil com esse conhecimento todo além de se envaidecer?

3- Que ele seja lindo

Fale a verdade: Você nunca fez dieta? Nunca tomou remédio para acne? Não tem celulite? A beleza está nos detalhes. E nos olhos de quem vê. Quem nunca conheceu um feio-bonito?

4- Que ele seja um monge

Você está estressada porque não deu tempo de fazer escova, está quatro quilos acima do peso e vai ficar menstruada. Aí, devido a tais tragédias, anuncia que não vai mais ao show que vocês tinham combinado de assistir juntos há dois meses. É claro que só o que ele pode fazer é dizer que “Tudo bem, claro, minha linda, meu amor”. Capisce?




5- Que ele ature seus sobrinhos, que diga que a ama todos os dias, não se esqueça do aniversário da sua bisavó e nunca pule as preliminares.

É simples: Quando o amor é óbvio demais, se o seu “casinho” simplesmente se esquece de si e faz to-das as suas vontades, bem, não é a você que ele ama. Ele a idealiza, põe você num pedestal. E aí, fodeu: A gente não gosta de quem se coloca abaixo. E, mesmo que gostássemos, um belo dia ele descobriria que aquela princesa estava mais para ogra (bem mais).




Cinco coisas que é prudente exigir de um homem:


1- Que ele tenha dinheiro e não seja sovina

Afinal, imagina-se que você também tenha o seu. Direitos iguais. Agora, pedir cinqüenta centavos para pagar a metade da cocada comprada na praia é um balde de água fria. O mesmo vale para quando um dos dois for entrar na fila do cinema e o outro for pegar lugar no restaurante, porque o shopping está cheiíssimo. Quem for para a bilheteria paga e ponto final.

2- Que ele seja inteligente e minimamente engajado.

Não é necessário que ele tenha lido Foucault, mas que tenha ao menos ouvido falar. Que saiba que “berinjela” não se escreve com “g”. Que tenha pendor para alguma coisa, ou melhor, que já tenha descoberto um (porque todo mundo tem). E, se ele falar que não gosta de política, já que ‘essas paradas’ não alteram em nada a vida dele, au revoir.

3- Que ele seja limpinho

Dispensa explicações.

4- Que não ouse ficar “putinho” sem dar explicações, e que jamais a agrida.

Pois para exigir algo de um homem, é necessário que ele seja um homem, e não um moleque mimado. E bater, só a pedidos.

5- Que ele tenha timing

Porque é sempre bom receber um telefonema inesperado. Ou quando ele passa a mão na sua perna enquanto dirige, com a cara mais séria do mundo. E não é nada mau um pouco de suspense. Tem graça saber onde ele está e o que está fazendo a cada minuto do dia? Tenha dó.

domingo, 12 de setembro de 2010

Eu-te-amos, a “bença”, as anedotas da infância
O vinho quente e barato (tim-tim, tim-tim!)
Desce traiçoeiro pela faringe travada: Ânsia.
Ébrios reclamam ter perdido o latim
(Que nunca tiveram) Com os filhos ingratos, e fazem-no rindo
Culpam por tudo o destino, as circunstâncias, a má sorte
                     - Em quantas horas o circo será findo?
                     - Sei lá, passa a garrafa: Família é de morte.

sábado, 11 de setembro de 2010

Dia plúmbeo e beligerante
Céu cinza rubro de sangue
Entre corpos muy feridos
- Em meio a estilhaçados vidros,
Patriotas em dor absortos -
Salvaram-se vários mortos.

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quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Abrindo o Baú

 (Escrita antes de viajar, jamais enviada) 

  Curitiba, 23 de agosto de 2009

  Queridos Papai e Mamãe:


  Ignorem qualquer surpresa - o que lhes apresento aqui são, na realidade, os sentimentos de uma estranha. Tenho urgência de esclarecer, de uma vez por todas, que há muito já não me ligam a vocês o dinheiro ou as chantagens emocionais. Não sou ingrata, mas estou certa de que sei o que é melhor para mim, porque ao menos conheço minhas confusões. Vocês não podem predizer a mulher que serei - nem ao menos sabem a menina que fui!
  Cresci acreditando que o grande objetivo da minha existência era fazê-los felizes e isto significava - vocês nunca esconderam - ser a mais bonita, a mais inteligente, a mais educada da família, do clube, da escola e, se possível, do mundo. Não foi difícil durante a infância (todas as crianças são marionetes) e, quando me deparei com o impulso juvenil de abraçar o mundo com as pernas, questionar e transgredir, tive o cuidado de escondê-lo. Era a mais louca da turma do mal, mas às três estava em casa sóbria, no domingo usava vestidos, ajudava mamãe a fazer o almoço e passava a tarde estudando, lembram?
  Acusam-me de ser egoísta, só que não sabem (e nunca saberão), que, por solidariedade a vocês, chorei mortes sem que desconfiassem e acordei cedo para fazer compressas de camomila nos olhos. E quando voltei de viagem e papai me disse que eu estava "um planeta", recordam-se? Bastavam três quilos para que eu retornasse aos meus quarenta e sete de sempre, mas fiz melhor do que isto: dobrei a quantidade de cocaína e em duas semanas perdi seis (em um mês e meio, foram doze), vocês ficaram orgulhosíssimos e eu, um ano sem menstruar - mas que importa o detalhe?
  Entretanto, também é necessário elogiá-los: Aprendi bem cedo que não existe almoço grátis. Thanks to that, não consigo me sentir bem quando alguém segura meu braço com certa força na hora de atravessar uma rua - vai saber o que o desgraçado pedirá em troca -, prova irrefutável de que vocês conseguiram criar uma pessoa deveras independente, um feito digno de aplausos.
  Tirar nota dez em biologia e saber segurar minha flûte de champagne enquanto sorria cortesmente para todos os seus amigos (pais de família muito cavalheiros, que tentaram me levar para a cama inúmeras vezes) eram habilidades essenciais que adquiri com algum esforço, no entanto, pouco era o valor dos meus sonhos (não que eu tenha deixado de buscá-los, pelo contrário).
  Não pretendo fazer uma série de acusações, aliás, não faço aqui acusação alguma: Continuo violentamente existencialista e tenho a consciência de que todas as vezes que me atirei do precipício o fiz por que quis. Contudo, seguindo a mesma linha de raciocínio, sei também que escalei de volta à superfície sozinha, após ter me estatelado no chão. Sempre fui precoce, mas somente as irresponsabilidades que cometi puderam me fazer madura, e não suas ambíguas teorias.
  Uma história engraçada: No ponto mais conflituoso da minha adolescência, namorando o garoto que vocês julgavam adequado, pensei sobre o quão fácil seria ter a vida que vocês queriam para mim, tão habituada estava a pedir licença para ir à toalete, dar um telefonema e voltar com a expressão mais inocente possível. Afortunadamente, descobri que minha sede de liberdade não tolera frustrações bovaristas e tenho certeza de que preferiria morrer virgem, se virgem eu fosse, a somente pensar em dividir o mesmo teto que aquele bobalhão.
  É decepcionante pensar que, depois de passados dois terços do seu tempo na terra, ainda dêem tanto valor às aparências. A afirmação pode soar como uma inversão de papéis, mas me parece fútil demais o seu júbilo ao ouvir alguém dizer que sou linda e seu desgosto quando digo que vou cortar o cabelo. A beleza não é eterna, estática ou única, e tudo ao nosso redor é evidência disto.
  Recuso-me a ficar presa às suas ambições mesquinhas. Não importa se passei no vestibular, no concurso, meu desempenho no trabalho ou na faculdade: Quero mais do que saber, quero aprender, ensinar e construir. A contemplação não me satisfaz, o mundo é vasto e tenho muito a produzir.
  Poderia escrever páginas e páginas sobre o que almejo, mas só o que vocês precisam perceber é que não tenho mais a intenção de esquecer meus desejos em nome de... do que, mesmo?
  Não sou riquíssima, todavia não preciso de um centavo seu. Às vezes sinto-me só, mas prefiro a solidão às companhias que me destroem. Se vocês acertaram nas intenções (há controvérsias), erraram nas atitudes. Sou mais forte e poderosa do que demonstro. Amo vocês, só que não estou disposta a me sufocar por uma moral rasa e sem fundamentação, por ideais que não são meus e nem pela Família (assim mesmo, com letra maiúscula). Que eu quebre a cara para que o tempo os prove certos, mas agora é hora de partir por alguns meses.


  Lucia

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Com o perdão do prosaísmo

Hoje senti teu cheiro
De cigarro
Na minha blusa.

(Acho que não era meu cigarro,
Ainda que dividíssemos
O mesmo Carlton Crema.)

Fosse outrora
Não o notaria
Tão...                 ridutassom

Apaixonados (?)

Estávamos.

(Alors

- P'ra molhar minha pena
Em seus lirismos baratos:
"Com as graças do céu" -

Se o percebi
Ele - você - não é mesmo
Mais meu)

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Haikai para os imaginativos

Centro róseo e oblíquo
Esconde o suave veludo
(dulcíssimo figo)

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Perdi os contornos guardados
Na imensidão do Jamais
Do mar triste de chamados
Que me afoga e me desfaz

Ai, se eu quisesse querer
Os raios pálidos de amor
Prolongando o anoitecer
Ou meu sorriso anterior

Se eu trocasse o úmido pranto
Pelo vapor dum suspiro...
Esqueço, pouco me encanto
Já não espero, mas deliro...

Basta o nada? Nada basta
Minha apatia é só cinismo
É o tudo que me arrasta
Do (quase) anseio para o abismo

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Carta a um mau amante

  Curitiba, 21 de maio de 2010

  Caríssimo V.,


  Não se encha de vaidade pois lhe escrevo, não tome esta carta por um sinal de afeto. Se dirijo algumas linhas a você, é somente por que se fazem necessários alguns esclarecimentos.
  Antes de mais nada, um pedido: não me chame mais de “minha querida”, não sou querida e muito menos sua. Aliás, preciso lhe dizer que pouco me comovem seus ciúmes.Você não é meu dono, recuso-me a passar pelas partes ruins de um relacionamento sério sem nunca termos tido um. Você protesta, diz que não entende minhas atitudes, mas é simples: Conheceu-me de um jeito, gostou de mim daquele jeito e, agora (que ironia!), quer que eu mude. Quer que eu pare de fumar, que não use jeans rasgados, que conheça a sua mãe. Compreendo: Quis crer no que alardeiam sobre as mulheres da minha idade (tão influenciáveis!) e se esqueceu de um detalhe: Sou nova, não trouxa.
  Não diga que me ama, não seja leviano com as palavras, não faça perguntas tolas, não seja pretensioso: Eu nunca vou me apaixonar por você.
  Há algum tempo, dizia que eu dava bons conselhos. Por gentileza, trate de aceitar os seguintes: Procure uma moça bem carente, que acredite no grande amor – dla ficará satisfeitíssima com um gentleman possessivo. Outra dica: Esqueça o Fahrenheit – depois dos “enta”, não fica bem usar perfumes velhos.
  Lamento lhe informar, mas você pouco entende do prazer feminino. Sabia que ele começa pelos ouvidos? Pois bem, ultimamente, sua voz tem me dado ânsias. Não é só: Suas perversões são comuns, sei de cor o caminho que você percorre antes de chegar ao que interessa e detesto seu olhar interrogativo no final. Quer mesmo saber? Você não foi o meu melhor. Mas valeram as tentativas.
  Para não falar que sou injusta, obrigada pelos lírios enviados na semana passada.
  Um último aviso: Não é prudente sair por aí dizendo que sou sua namorada. Você não é o homem da minha vida. É “um dos”. Ou melhor, foi. Tudo tem prazo de validade, e nosso affair era extremamente perecível. Faça o favor de sumir, antes que as lembranças de incômodo se tornem mais intensas do que as de alegria.

  Meus mais ou menos sinceros votos de felicidade

  Lucia