segunda-feira, 1 de novembro de 2010

            Não perdi os vocábulos, mas perdi a poesia. Sou o vazio. Basta-me um ingênuo para que eu volte acreditar no “sentimento do mundo”. Basta-me um presunçoso para que eu sinta-me tomada por uma ataraxia satírica. Sinto-me desprezivelmente sã. Nenhum louco digno do nome, supondo-se que a loucura seja o próprio excesso, procura um espelho que lhe traga a cura. Uma máscara substitui a outra, embora o significado de cada uma permaneça incógnito. Talvez tudo seja culpa das migalhas que espalhei pelo caminho. A fealdade de minha história é o lirismo que resta não a mim, mas aos que me lêem surpresos até que se enfastiem. Os ímpetos incontíveis morrem sem deixar rastros. Fui tão feliz que prefiro não lembrar. Fui tão miserável que é melhor esquecer. Lógica alguma atinge o âmago desta caneta. Lógica alguma atinge. Lógica. Se a poesia não houvesse sido perdida, entretanto, acredito que já estaria condenada. Sufocada com o “eu”. Sobraria apenas a fusão dos meus tantos nomes. Que é nada.

3 comentários:

  1. Se realmente a poesia fosse dissipada do seu ser, provavelmente, não existiria mais nada.
    Lucia, não se engane: você é a própria poesia. Sempre foi e estou certo de que não é agora, que deixará de ser.
    Embora equivocado, seu eu-líico não deixa de ser fantástico. Mais uma vez.

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  2. Os extremos tocam-se, e o nada pode ser tudo...
    Viajamos, cirandamos por aí, e cada coisa tem um significado. Também nós, apesar de...

    beijo :)

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